quinta-feira, 21 de julho de 2011

Impressões de uma visita Missionária - Pastor Mauros Werling 1

Dona Vicentina e Pastor Mauros
Olá amados. Creio que vocês devem estar ansiosos para receber notícias sobre as aventuras de um Cataucho em solo Nordestino. Antes de compartilhar um pouco do muito que vivemos no dia de ontem, quero agradecer a todas as pessoas que responderam o e-mail de ontem. Obrigado pelas orações e pelas palavras de encorajamento. Ah como isso faz bem ao coração!!!
Nosso dia de ontem, começou bem cedo de manhã. Depois de tomarmos um gostoso café com o Juliano e sua família, fomos ao supermercado de Crato no Ceará para comprar o frutas e verduras que são indispensáveis na minha dieta alimentar. Fiquei impressionado com o zelo a organização e as variedades de frutas deste mercado. As frutas estavam tão bem colocadas que parecia uma obra de arte. Fizemos as compras e levamos nosso primeiro susto. Ingredientes que normalmente custam entre 10 e 15 Reais e que duram para nós uma semana, custaram 75 Reais. Mas tudo bem a saúde também tem o seu preço.
Feito as compras deixamos o estado do Ceará e fomos para Pernambuco, mais precisamente para a cidade de Araripina onde ficaremos até a proxima segunda feira. Foram mais ou menos 150 Km numa estrada que corta o sertão nordestino. Para terem uma idéia, da imensidão desse negócio, nesta estrada há uma reta de 90 Km. Ficamos impressionados com o vimos ao longo dessa estrada, para terem uma idéia, só hoje tiramos mais de 200 fotos. No trajeto não víamos quase nada a não ser cerrado e terra e mais terra deserta. De vez em quando víamos uma casinha de barro sem nada, mas com uma antena parabólica no lado. Conhecemos também o famoso BARRERO, um buraco cavado no chão onde no tempo de chuva a água era retida e da qual as pessoas e os animais se alimentavam no resto do ano. Só de ver partia o coração.
Chegamos em Araripina por volta do meio dia. Uma cidade no meio de um imenso nada cercado por cerrado e caatinga de todos os lados. Uma cidade de aproximadamente 75 mil habitantes. Fomos recebidos com rostos radiantes e abraços demorados pelo Casal Rafael e Catislaine e a filhota Manuela. Fiquei impressionado com a igreja e também com a casa pastoral. Tudo muito bem organizado, demonstrando o zelo pelas coisas de Deus. Mesmo a milhares de Km de casa me senti. Após o almoço tivemos um tempo muito especial para matar a saudade com nosso colega e amigo pastor além de atazanar a vida da nossa afilhada Manuela.
Mais tarde saímos para visitar o seu José, mais conhecido como “Galego”, homem simples de cor clara, quase albino totalmente diferente da maioria do povo daqui. Ao chegar ele foi logo abrindo a porta e nos convidou para entrar. Não demorou muito para sua esposa a dona Neci chegar e nos saudar com um sorriso que tinha o tamanho do seu coração. Opa eu me enganei, acho que o sorriso era quase maior do que ela. Mal deu tempo para cumprimentá-la que ela foi logo abrindo o seu coração e contar toda a história da sua vida. O que ela fez é algo que parece ser inimaginável acontecer em nosso contexto do Rio grande do Sul. Ela, com os seus olhos transmitindo toda sua emoção, compartilhou do seu sofrimento nos três anos em que seu marido literalmente não saiu de casa. Membro de uma família de matadores ele ficou com medo de que seria o próximo da lista para lavar a honra da família. E assim, Ele foi acometido de uma depressão tão profunda que não tinha forças nem para levantar da cama.
Dona Neci viveu nestes anos um pouco do inferno aqui na terra. Ela quando tinha que levar os filhos pequenos para a escola  inicialmente escondia tudo o que poderia representar algum perigo, faca, corda, tesoura e depois saia correndo como uma louca para voltar o mais rápido possível. Na volta quando chegava ao portão já chamava por ele para ver se seu marido ainda estava vivo.  Imaginem alguém viver deste jeito por tanto tempo. Foi então que o seu José com sua experiência de seus 49 anos disse com todas as letras: “Mas o Senhor Jesus me libertou e hoje estou curado”. Ele então foi para o quarto e trouxe um saco, sim não era uma sacola mais um saco de caixas de remédio que havia tomado. Aquele testemunho de uma fé tão simples e verdadeira fez meu coração transbordar de alegria. Uma alegria que fazia meu coração pulsar de uma maneira que a muito tempo não havia sentido. Depois de mais um tempo com eles pedi para orar e seguimos nosso itinerário. Foi maravilhoso. Eu me senti em casa.
Em seguida seu Jose pegou seu celtinha que ele mesmo apelidou de Taxi de Jesus, e nos levou para conhecer dois campos de trabalho da igreja. E mais uma vez fomos surpreendidos com o que Jesus pode fazer na vida das pessoas. Chegamos a um lugar chamado Serra do jardim, mais conhecido como vilinha. Lá acontecem cultos todos os domingos à tarde. O local é a casa da dona Vicentina. Uma adorável senhora de 74 anos que aparece comigo na foto. Ela é viúva e mora sozinha na zona rural a uns quinze km da cidade. Sua casa é simples, mas seu coração é de uma grandeza, de um amor que não consigo descrever para vocês em palavras. Ela carrega no rosto e no coração as marcas de uma vida difícil. Se olhássemos a vida dela pelas coisas materiais que ela possui diríamos que lhe falta quase tudo, mas fomos recebido de tal maneira e com tamanha hospitalidade que parecia que estávamos no céu. Depois de muita conversa, ela nos ofereceu um café. Mas não era qualquer café. Foi um café feito de uma água barrenta de um deposito ao céu aberto que confesso, me fez tremer por dentro, mas como eles estavam vivos não podia deixar de experimentar este seu gesto de amor e hospitalidade. Foi, com toda a certeza, o café que mais me fez pensar, refletir na minha vida e nos meus valores. Tomei cada gole como se fosse uma jóia lapidada por mãos que estavam nos oferecendo o que tinham de mais precioso. Era um café que tinha o suave aroma do amor de Jesus.
Depois de tirar algumas dezenas de fotos e eternizar este momento, pedi para orar com ela e então fomos para um outro campo de trabalho também no ambiente rural. Já quase escuro, pois o sol aqui se põe pelas 17:30, voltamos para casa. Confesso que fisicamente estava muito cansado, sentindo ainda fortes dores do último procedimento médico feito a três semanas atrás. Mas meu coração estava batendo num ritmo alucinante. Ficamos o resto da noite conversando até tombarmos de cansaço.
Amados, sei que para muitos pode parecer e até ser cansativo e enfadonho receberem estes relatos, mas eu desejaria que cada um de vocês tivesse a oportunidade de cursar esta cadeira que estou freqüentando na universidade da vida ao longo desta semana. Sei que nem todos teremos uma experiência tão radical quanto a nossa. Mas sei que todos nós podemos abrir nossos olhos para a realidade que está a nossa volta, pois não existem pessoas como a dona Vicentina, ou o seu José somente no sertão nordestino. É meu desejo que Deus possa abrir teus olhos hoje e fale diretamente ao teu coração para poderes enxergar a sua vontade para ti hoje. Seja ousado. Esteja preparado para se emocionar com o que as pessoas lhe compartilharem. Esteja tão disponível a ponto de permitir que as pessoas abram seu coração para ti. Não te preocupe, pois a maioria delas não te pedirá grandes coisas, mas tão somente que as escute. Bem agora chega de escrever. Preciso enviar esta mensagem e depois partir para mais um dia aqui no sertão. Que o Senhor faça deste dia um dia especial e repleto de suas bênçãos, tanto na minha vida, na tua e de todas as pessoas que tiverem o privilégio de convier conosco. Em Cristo Jesus. 
Pastor Mauros Werling - Novo Hamburgo/RS.

Nenhum comentário:

Postar um comentário